terça-feira, 31 de março de 2015

"A revista chegava a conclusão que as máquinas de costura [SINGER] (...) eram objetos imorais, diante da opinião das entrevistadas de que o atrito rápido das coxas ao pedalar produzia-lhes uma excitação fora do comum. Foi o bastante para que a literatura médica especializada do Brasil entrasse na polêmica, colocando sobre fogo cerrado o “pecaminoso” objeto."

No dia 8 de Novembro de 2011, publicámos no Facebook, no mural do Projeto Memória :

Quando em 1851, Isaac Singer inventou a máquina de costura Singer, não tinha ideia da repercussão negativa na sociedade. Confira abaixo.
"Tudo começou nos Estados Unidos onde um certo Dr Guibort botou a boca no mundo afirmando ser a máquina de costura um objeto anti-higiênico, que provocaria nas mulheres, pelo seu uso continuado, distúrbios, então, mais desconfortáveis do que hoje, como amenorréia e leucorréia. A questão teria tido repercussão limitada não fosse uma pesquisa de opinião, sobre o assunto, encomendada pela reputada publicação especializada “Medical Records”. fiação, onde sangrar os dedos era rotina. Mas o que Singer nunca imaginou é que a publicidade de seu produto encontraria restrições em alguns países, inclusive o Brasil, por uma suposta “indução” ao adultério.
Objetos imorais
A revista chegava a conclusão que as máquinas de costura não eram anti-higiênicas, conforme pregava o Dr Guibord, mas eram objetos imorais, diante da opinião das entrevistadas de que o atrito rápido das coxas ao pedalar produzia-lhes uma excitação fora do comum. Foi o bastante para que a literatura médica especializada do Brasil entrasse na polêmica, colocando sobre fogo cerrado o “pecaminoso” objeto.
Era a máquina de costura, nesses idos de 1875, quando o assunto foi ventilado no país, uma das coqueluches do mercado, à venda em sofisticadas lojas de variedades que também comercializavam instrumentos musicais da Alemanha e Inglaterra, porcelanas e equipamentos para as salas de estar e de jantar, da França, relógios Suíços… dentre outras novidades.
Maridos ciumentos
Ao contrário de um outro invento que tinha ares de ilusionismo, a fotografia, então, restrita às cortes e salões da alta burguesia, a máquina de costura era objeto de consumo, embora não tão popular no Brasil. É que até 1873 prevaleceria o monopólio dos possuidores de patentes, com os seus preços exorbitantes para o consumidor. A despeito disso, a Singer dividia a preferência dos usuários com a Welson, Grover, Wuicox.e Baker
O fato é que a polêmica despertada pela literatura especializada influenciaria a grande mídia e com ela a opinião pública. Enquanto maridos ciumentos puniam o quase adultério de suas mulheres, proibindo-lhes o uso de máquinas de costura, a mídia bradava para que se criassem restrições à publicidade do produto. Os americanos, muito mais pragmáticos, apelavam aos fabricantes para que se emprega-se, na fabricação das máquinas, uma outra força motriz, que não os pedais.
Felizmente o assunto esvaiou-se por despropositado e o invento de Isaac Singer, passada a turbulência, continuaria a ser anunciado nas páginas dos jornais, e a povoar, quem sabe, o imaginário feminino."
Autor: Nelson Varón Cadena - fonte Almanaque

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