domingo, 24 de janeiro de 2010

"Mãe e irmã carregavam-na ao colo e às cavalitas por três lances de escadas durante os mais de dez anos (...)!


Fora o artigo da passada 4a feira sobre o "fígado", esta semana tenho escrito sobre o impacto dos comportamentos na nossa Qualidade de Vida.

Por isso hoje, senti vontade de coroar este tema com uma das histórias de vida publicadas na revista Expresso de 9 de Janeiro pp (clique aqui para ler o artigo na íntegra). Os quatro heróis são verdadeiros exemplos que validam que cada um de nós, tem forças internas capazes de nos fazer dar a volta por cima, quando o mundo parece querer desabar em cima de nós!

Optei por selecionar uns trechos da Marta Canário por causa do apoio incondicional da família e uma das mensagens que quero deixar aos meus leitores é exactamente, a união da família, como factor crítico de sucesso, na manutenção sustentada da tal Qualidade de Vida que todos almejamos alcançar.

"(...) [Marta Canário] poderia vender cursos de optimismo. A ironia é que Marta Canário é paraplégica desde os 15 anos. A questão quase parece ganhar dimensões de pormenor diante da energia e do espírito positivo com que ela fala, gesticula e ajeita o cabelo, no seu pecado assumido - a vaidade. Não admira: foi sempre uma mulher bonita, habituada ao assédio dos homens, antes e depois do acidente. Sempre namorou e tentou manter uma vida normal. Esse foi parte do segredo para a sua auto-estima ter "crescido" de forma tão saudável: nunca deixou de fazer nada por ter "um adereço" suplementar - a cadeira de rodas. Aquilo que teria sido para muitos uma sentença de morte foi encarado por ela como um obstáculo a ultrapassar.

Nunca deixou de sair à noite (...) de ir à praia, e ao banho; de se divertir. Nunca baixou os braços, nem parou de lutar. Tirou um curso superior, de Comunicação Social, como sempre sonhara, procurou emprego, e arranjou um, do qual ainda se orgulha. Veste por completo a camisola. É assessora de imprensa da Novabase, empresa líder na área das tecnologias. E até aí conseguiu transformar a sua limitação numa vantagem competitiva.

Tanta garra e brilho no olhar surpreendem quando se sabe que esta pessoa enérgica já esteve "várias vezes para ir conhecer o 'barbudo'...", nas suas próprias palavras. Marta não perde a pose, o sentido de humor, a capacidade de relativizar os problemas e de ver o lado positivo de tudo. A começar pela família, pilar fundamental no seu equilíbrio e bem-estar. (...).

Foi num contexto familiar coeso que Marta cresceu, até ao acidente e depois do acidente. Mãe e irmã carregavam-na ao colo e às cavalitas por três lances de escadas durante os mais de dez anos que viveram num prédio em Alvalade sem elevador. Nunca se queixaram. Tantas vezes que se lembra de regressar de saídas à noite com a irmã - de saltos altos, por vezes já com uns copos a mais, e de caírem as duas nas escadas, entre risos abafados para não acordar as velhotas e a vontade de se escangalharem a rir à gargalhada...

(...)

"Se eu já era popular, ainda me tornei mais", conta. "Tinha um grupo de amigos grande, era namoradeira. E continuei a ser eu: a arranjar-me, a ser gira, a ter piada, a ter rapazes atrás de mim..." (...)

Depois, há o trabalho, outra parte essencial na felicidade de Marta - que ela vive com muita dedicação. Há mais de dez anos que é assessora de imprensa da Novabase. "Conquistei aquele lugar porque mereço", diz, sem hesitar. "E porque não tremi na entrevista." Marta até transformou uma aparente desvantagem num ponto a seu favor. Convenceu o empregador de que os jornalistas dificilmente se esqueceriam de alguém com as suas características. (...) Uma septicémia fê-la correr risco de vida. "Foi o momento mais difícil de sempre, o mais perto que estive de uma depressão. Tinha dores, estava magérrima. A minha mãe foi avisada três vezes que eu ia morrer." Nunca aceitou.

Nessas alturas, de onde vem a força? "De acreditar que ainda não era a minha hora", afirma. Nem então Marta deixou de fazer reuniões por videoconferência, de despachar e-mails de trabalho, sempre de computador portátil ao colo. Tão pouco faltaram os boiões de creme à sua cabeceira, no hospital, ou os colares pendurados na estrutura do soro... "Sempre tive a capacidade de dar a volta. Acho que o segredo é este: levar um dia de cada vez."

"Sinto-me uma privilegiada", diz Marta. "Sou uma mulher gira, interessante, que conseguiu vingar, independentemente de estar numa cadeira de rodas. E nunca senti a discriminação na pele." "

Obrigado Marta por ser assim! Parabéns à sua mãe e irmã que sem dúvida fazem parte da solução que a trouxe até aqui com tanta energia e boa disposição.

Que cada um de nós, nos momentos que nos parecem inultrapassáveis, pensemos na história da Marta e encontremos a melhor forma de darmos a tal volta por cima.

Abraços saudáveis

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