domingo, 31 de janeiro de 2010

Manfred Kets de Vries (...) Sua missão: ensinar os executivos a pensarem na vida"


Como defensor que a Qualidade de Vida das empresas sustentada (leia-se resultados junto dos vários stakeholders) está directamente relacionada com a Qualidade de Vida dos seus colaboradores, gostei muito de ler as palavras do psicólogo e economista holandês Manfred Kets de Vries, no site da Época NEGÓCIOS (clique aqui para ler o artigo na íntegra, de onde tirei os trechos abaixo):

EN: Você possivelmente já cruzou com algum destes personagens: o CEO de meia-idade que, entediado, arranjou uma mulher 30 anos mais jovem – a famosa “esposa troféu”. Ou então o diretor de RH que entrou em depressão depois de executar um corte drástico de pessoal. Ou o executivo ou executiva que subitamente perdeu um filho ou parente e um abismo emocional se abriu diante de seus pés. São fatos da vida que, na dinâmica das corporações, são sublimados. É como se jamais houvessem ocorrido. (...) Manfred Kets de Vries, 67 anos, psicanalista, economista e professor do Insead. Vries é autor de uma recém-lançada obra provocativa, que aborda os quatro pilares da existência humana: Sex, Money, Happiness and Death: The Quest for Authenticity (“Sexo, dinheiro, felicidade e morte: a busca da autenticidade”). “Nossa vida profissional seria muito mais gratificante se deixássemos de negá-los”, diz Kets de Vries.

(...) Grandes empresas, como Nokia, Heineken, KPMG, McKinsey e Unilever, aprenderam a confiar em seus insights e na dinâmica peculiar de seu trabalho, que envolve o coaching de grupos. Vries não economiza críticas às corporações (e também aos seus colegas acadêmicos): “O mundo dos negócios e a academia são emocionalmente subdesenvolvidos”, afirma ele.
(...)
Seu livro pegou muita gente de surpresa (...).

MKV: "(...) Meu objetivo com o livro foi tentar fazer o executivo refletir sobre o que, de fato, tem importância em sua vida. Também quis sacudir meus colegas da academia de suas torres de marfim. Os acadêmicos deveriam estar mais atentos aos problemas reais de pessoas reais, e não ficar tentando impressionar um ao outro.

(...) Veja a relação de sexo, dinheiro, poder e depressão. Acompanho executivos nas últimas décadas. É muito comum, depois de bem-sucedidos, que se aposse deles um sentimento de vazio. De tédio. No setor financeiro, isso é muito comum. Porém, aos executivos não é permitido – e eles não se permitem – demonstrar sinais de angústia. Entediados com as conquistas, a depressão aumenta. (...) Eles podem mascarar por algum tempo a angústia, mas chega uma hora em que todos têm de diminuir o ritmo. A saúde e o corpo não são mais os mesmos. E nessa hora fica realmente difícil confrontar a dura realidade.

EN: Como se prevenir disso?

MKV: Por meio de uma constante avaliação de si mesmo: “O que eu realmente quero?”. Afinal de contas, não vale a pena ser o sujeito mais rico do cemitério. Sei que isso é difícil de fazer, e de prescrever para os executivos. Mas é necessário.

EN: Como o dinheiro e a questão da remuneração nas empresas se encaixam nesse quadro?

MKV: A questão é: quanto é o suficiente? Eu faço essa pergunta para os executivos. E eles não sabem me dar uma resposta. Nunca se questionaram sobre isso, pois, quando o assunto é remuneração, é sempre possível, em teoria, ganhar mais. Não existe um teto em que as pessoas digam: “Esse limite para mim está ótimo”. Isso é bem razoável, mas ao mesmo tempo contraintuitivo... Existe um problema inerente ao ganho financeiro: com ele nasce, concomitantemente, uma cadeia de necessidades. Os mais ricos são também os mais necessitados, por paradoxal que isso soe. Eu sempre digo nos meus seminários: “Veja, um sujeito realmente poderoso era o Buda, que não precisava de nada, e vivia sem um tostão”. Se você quer ser realmente poderoso, tem de abrir mão de suas necessidades.

EN: E o que traz felicidade?

MKV: É uma pergunta difícil. Mas eu acho que o primeiro passo é ter um objetivo que o mova. E esse objetivo deve nascer da sinceridade. Alguns empreendedores são realmente sinceros ao querer criar um negócio inovador, de qualidade, e isso os faz genuinamente felizes. Para outras pessoas, os projetos e os objetivos são outros. O sucesso profissional entra aí como um meio, e não como um fim em si mesmo. Conheço um executivo que uma vez por mês vai a um hospital de crianças com câncer. Lá, passa uma tarde, distribui balas, brinca com as crianças. “Manfred, esse é o dia mais feliz do meu mês”, ele me disse.

(...) As pessoas gostam de conversar sobre sexo, dinheiro, felicidade e morte, mas muitas vezes olham em volta e não têm com quem falar.(...)

EN: O senhor trabalha muito com a emoção nos seus seminários?

MKV: Costumo dizer que os participantes, entre eles muitos executivos seniores e CEOs, começam o programa falando de negócios, e terminam falando sobre suas mães. Veja que evolução!

EN: O que seria o executivo “humano” na organização?

MKV: Ele é um mercador da esperança na corporação. Empresas devem produzir lucro, e para isso o CEO tem de saber criar um senso de propósito objetivo, que motive a equipe. Construir o propósito: essa é uma das funções do storytelling [técnica para contar e criar histórias]. Essa qualidade de liderança não nasce da educação formal, acadêmica – do MBA. Mas sim de capacidades intrínsecas da individualidade do CEO. Estas capacidades podem ser desenvolvidas.
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O PROFESSOR E A FELICIDADE

Seis dicas de Manfred Kets de Vries para gerenciar a qualidade de vida

Alegria, interrompida
Aproveite os momentos alegres, mas também aceite a tristeza. Uma das virtudes da felicidade é que ela não é constante. Se fosse ininterrupta, a felicidade se tornaria algo monótono, ou até mesmo um pesadelo. “Imagine um estado de orgasmo constante...”, provoca Kets de Vries.

Humor e humildade
O topo pode ser um lugar muito solitário. É essencial que o líder tenha alguém que possa criticá-lo, sem medo de represálias. Um remédio para isso é o humor. “Fazendo graça, o bobo da corte era livre para criticar o rei. O líder da organização devia ter seu ‘bobo da corte’. O humor traz humildade.”

Intuição às avessas
Intuitivamente, a tendência humana é dar mais relevo às falhas pessoais do que aos acertos. Fazer o oposto disso é saudável, segundo o professor. Deve-se aprender a cultivar o otimismo, a esperança e a criatividade pessoal.

Divina loucura
Aceite a própria loucura. Todos nós precisamos dela para manter a sanidade. “Eu gosto de um pouco de loucura e excentricidade nas pessoas. É o que fomenta a criatividade.”

Equilíbrio delicado
Como conciliar profissão e vida pessoal? Um segredo para evitar a dor na consciência é o senso de responsabilidade pelos outros. (...)

Intensidade e paixão
Para uma vida profissional saudável, a pessoa deve ser capaz de extrair intensidade de todos os momentos. Nós devemos ser capazes de experimentar todas as “cores” de cada um dos momentos. Não podemos agir como daltônicos emocionais.

(...)
“O valor está nas coisas simples”

Só esse resgate produzirá supéravit emocional nas empresas, diz Faccina

Época NEGÓCIOS buscou um veterano para sondar a balança emocional do corpo executivo no Brasil. É Carlos Faccina, ex-executivo da Nestlé, professor da Business School São Paulo e autor de O Novo Profissional Competitivo, que acaba de ganhar uma nova edição pela Campus. Suas impressões:

- Vivemos hoje um período de desequilíbrio e excessos, e este movimento ainda não chegou ao ápice. Mas, como tudo na vida, é um movimento pendular.

- O retorno ao superávit emocional depende de um resgate e uma revalorização das coisas simples nas empresas.

- Emoção e razão andam juntas. Não dá para ter envolvimento num projeto sem que a emoção esteja envolvida. No entanto, mais de uma vez fui repreendido em reuniões: “Faccina, não vamos ser emocionais! Vamos ser racionais”.

- Os funcionários, mesmo vizinhos de cubículos, não se falam mais, nem por telefone, só por e-mail. Hoje em dia, as únicas pessoas que conversam nas empresas são os fumantes. A tecnologia, aliás, é cúmplice do alheamento emocional.

- Nos anos 80, o processo de expatriamento de um executivo demorava um mês e meio. Havia tempo para o sujeito acomodar a questão familiar, e medir se valia ou não a pena a mudança. Hoje, a decisão ocorre em dois ou três dias.

Acredito que a leitura deste artigo possa contribuir para que accionistas e executivos (mas não só!) possam incorporar parte da sua mensagem ao modelo de gestão das respectivas empresas. Todos sairão beneficiados ao longo do tempo!

Abraços saudáveis

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