sábado, 27 de fevereiro de 2010

"o erotismo é qualquer coisa que permite a um casal na sua intimidade poder por breves minutos ombrear com um Beethoven, um Puccini ou um Rodin e ...


Sexo também tem a ver com Qualidade de Vida. Por isso hoje publico alguns trechos de uma entrevista com Francisco Allen Gomes que podem ler na notícias magazine (#925 14FEV2010). Infelizmente, tanto quanto sei, não está disponível na internet.

(...)
Há 35 anos, quando[Francisco Allen Gomes] criou nos Hospitais da Universidade de Coimbra a primeira consulta de sexologia, as mulheres queixavam-se de que não tinham prazer. Agora queixam-se de que têm prazer, mas não têm vontade. Vá lá entender-se...

(...) os problemas da sexualidade são basicamente socioculturais.
(...)
Em, 35 anos o que mudou?
Quando começamos a consulta, os problemas das mulheres tinham que ver com não atingirem o orgasmo, não se excitarem ou não terem prazer durante a relação sexual. Eram as queixas dominantes.

(...) havia uma ignorância total da própria fisiologia do acto sexual e por isso a terapêutica era muito pedagógica e os resultados muito bons.
(...)
A partir de 1979, uma grande sexóloga norte-americana (...) ao observar muitos casos falhados do seu ficheiro (...), percebeu que o que ali estava em causa era algo que vinha antes da excitação e do orgasmo. Era o desejo.
(...)
Cá em Portugal também?
(...) gosto muito de bacalhau mas se me derem bacalhau salgado todos os dias, num mês não suporto bacalhau. Se uma mulher ou um homem vão para a uma actividade sexual e falha, falha, falha, o desejo vai ao ar. Mas o desejo não fazia parte da minha compreensão clínica, Só a partir de 1982é que a pouco e pouco fui admitindo isso. Ou seja, se fosse analisar uma mulher clinicamente não era aí que punha a minha atenção, até porque a conversa entre os médicos e os pacientes é muito difícil, aquilo que entendemos e as palavras que usamos podem ser completamente diferentes das que as pessoas usam e por isso às vezes não no entendemos. Mas, de facto, a partir dos anos noventa, à medida que o século XX chega ao fim, começa a aparecer um tipo de queixa feminina que se torna dominante, que é não apetecer. Não apetecer porque não têm prazer quando fazem? Não, quando fazem têm prazer. Têm orgasmos? Têm, às vezes são multiorgásmicas. Quando há uma relação mostram alguma inibição? Nenhuma! Os companheiros confirmam: a relação é espectacular. Mas não lhes apetece.
Porquê
(...) anda tudo à procura dessa resposta. (...) antes as mulheres vinham à consulta porque não conseguiam ter prazer, agora vêm porque têm prazer e não lhes apetece.
(...)
Tenho um amigo que diz que o complicado é ser heterossexual, porque homem e mulher são tão diferentes que nunca sabem o que o outro quer.
Exactamente. Mas, ao mesmo tempo, o modelo masculino é o dominante, o que não ajuda. Às vezes colegas suas telefonam-lhe a propósito da da falta de desejo das mulheres e perguntam-me: o que é que acha, precisam de variar, usar uma lingerie mais bonita? E eu respondo sempre: mas espere aí, a quem é que não apetece? É à mulher? Então ele é que devia usar uma lingerie mais bonita. No fundo, vamos dar sempre ao mesmo problema: não nós nós não temos desejo espontâneo. Esse acontece na medida em que em que nos sentimos desejados. É o desejo do outro que acaba por funcionar como uma estimulação do nosso desejo.
(...)"

O resto da entrevista pode ser lida clicando aqui (encontrei esta parte num outro blog). Destaco apenas a seguinte frase:

"Ele [García Marquez] diz que a pornografia é o aspecto quase triste do sexo, ao passo que o erotismo não, o erotismo é qualquer coisa que permite a um casal na sua intimidade poder por breves minutos ombrear com um Beethoven, um Puccini ou um Rodin e fazer ali uma obra de arte."

Compartilhe a leitura deste artigo com o seu companheiro(a) e perpetuem as vossas "obras de arte"!

Abraços saudáveis

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